Texto: Eduardo Escobar / Fotos: Gérson Alves
Ela é categórica ao afirmar que a revolução ainda não terminou. Mas ao contrário do que muitos imaginam, a revolução que ela prega não vai acontecer com soldados armados ou em combates sangrentos. “Chegou a hora da revolução de idéias, da formação de uma nova mentalidade”, defende Norelys Morales Aguilera, uma das mais conceituadas jornalistas e blogueiras de Cuba, que esteve na tarde desta quarta-feira em Viamão para participar de uma conferência de imprensa para os jornalistas e blogueiros viamonenses, na Câmara de Vereadores.
Norelys chegou a Porto Alegre na semana passada para participar do Encontro Gaúcho de Blogueiros e Tuiteiros, que aconteceu na Capital nos dias 27, 28 e 29 de maio e da VI Convenção Estadual de Solidariedade a Cuba, que vai ocorrer nos dias 4 e 5 deste mês, na Assembleia Legislativa.
No encontro com a imprensa local, entre os temas abordados, a jornalista cubana falou sobre liberdade de imprensa, acesso à internet, conteúdo jornalístico e ideologia nas comunicações, sob a ótica de um país que sofre um bloqueio econômico e midiático há mais de 50 anos. “As mídias corporativas respondem somente aos interesses de seus donos e não aos blogueiros e internautas. E mesmo depois de tantos anos, esta mídia não consegue perdoar a independência e a autonomia do povo cubano”, disse justificando a publicidade negativa ao regime socialista do arquipélago cubano.
“Não venho como alguém que representa o governo cubano. Venho como uma pessoa normal, para trocar informações e experiências, como blogueira e jornalista”, avisou. Ainda assim, Norelys é uma extremada defensora do modelo cubano de socialismo e dos avanços que a revolução trouxe para o seu país. “Não se enganem, as grandes mídias estão interessadas em vender ao mundo a imagem de um país derrotado, mas não é verdade. Vivemos em Cuba, como se vive em qualquer outro lugar do mundo”, afirmou.
É contra este império midiático que se insurge uma rede de internautas e blogueiros que utilizam as redes sociais e os sites para denunciar o bloqueio econômico e cultural à Cuba. “Na verdade, o exemplo de democracia cubana é insuportável para o modelo capitalista que controla o mundo”, ironiza.
O papel dos blogues
E é neste contexto que Norelys enquadra o papel dos blogues e redes sociais. Ela diz que, ao contrário do que pregam os países que mantém bloqueio econômico e cultural ao regime cubano, os blogues e a imprensa livre de Cuba mostra a realidade e o quê realmente acontece na ilha. “Como cubana, sei que o meu país não é perfeito, mas como podem dizer que um país que tem um dos melhores e mais justos sistemas de saúde, e os melhores índices de escolaridade das Américas é um modelo fracassado?”, pergunta.
Este novo tempo de democratização das informações, para ela, vai continuar dando dor de cabeça para os países capitalistas e seus aliados. Ela justifica a vigilância e a propaganda negativa que fazem do regime socialista cubano, com forma de controlar a verdade. “Imaginem dois milhões de cubanos dando relatos do exemplo cubano? Seria muito constrangedor para aqueles que lutam contra o regime socialista de Cuba”. Para ela o mais importante é que o modelo cubano não pode ser estigmatizado. “Não idealizem Cuba! Somos uma sociedade de homens e mulheres que também cometem erros, mas se o socialismo cair em Cuba, será por culpa única e exclusiva dos cubanos”, reforçou lembrando as campanhas e projetos financiados pelos grandes governos para derrubar o socialismo.
Ao final das quase duas horas do encontro, a jornalista cubana defendeu a democratização dos conteúdos nas novas mídias, que são a oportunidade de divulgação de novas idéias. “A nova ordem cresce nas redes sociais, na difusão e na democratização das informações. Uma idéia, bem desenvolvida, pode derrotar um exército”, finalizou.
Visita ao Filhos de Sepé
Antes da reunião na Câmara de Viamão, Norelys fez questão de conhecer o Assentamento Filhos de Sepé, um dos exemplos de reforma agrária em nosso estado, localizado na RS-040, no Passo do Vigário. “Vejo Cuba aqui, quando vejo trabalhadores rurais vivendo de sua produção. Ela também ficou feliz em saber que filhos de duas famílias de assentados estão em Cuba estudando medicina. “Em que outro lugar do mundo o filho de um agricultor pode sentar em bancos escolares de uma das mais prestigiadas profissões? Em Cuba isso é possível”, lembrou.
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